terça-feira, 24 de novembro de 2009

Manifesto da futilidade

Eu ainda não tinha me manifestado, nem refletido sobre a proibição do bronzeamento artificial no Brasil. Talvez porque a medida não tenha alterado muita coisa na minha vida. Nunca utilizei o método, mas não descarto a hipótese de querer utilizá-lo um dia, e não tenho nada contra quem o usa. Concordo com alguns argumentos apontados pelos manifestantes contrários à iniciativa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), porém acho inadmissível que esta medida tome proporções maiores entre a população do que as notícias diárias sobre violência e corrupção que acompanhamos.
Também creio que as pessoas devem ter o livre arbítrio para decidir o que fazer com o seu corpo, como argumentam alguns manifestantes. Todos sabem que o cigarro é cancerígeno e um dos principais causadores de morte no mundo e ainda assim todos têm a liberdade de optar pelo uso do tabaco. Porém, nem a Anvisa nem órgãos maiores têm o poder de acabar com uma das indústrias que mais gira dinheiro ao redor do mundo e não acho justo agir diferente com o bronzeamento artificial só porque não rende tanto capital.

Aqueles que acham que vale a pena se expôr a radiação das máquinas de bronzeamento, cientes do impacto que isto gera à saúde, por um tom de pele mais moreno, que o façam. Porém, a manifestação feita nesta segunda-feira, em Porto Alegre, em oposição a atitude da Anvisa me deixa possessa com a futilidade humana.


Em um país que ainda perde milhares de pessoas por ano pela fome, outras milhares vítimas da violência cada vez mais absurda, que convive diariamente com manchetes sobre corrupção, mensalão, lavagem de dinheiro, fazer protesto contra o bronzeamento artificial é um absurdo. A que ponto chegou a futilidade humana?

Que reivindiquem o direito de ter uma aparência mais "bonita", mas que antes saiam às ruas para lutar pela vida digna àqueles que não a tem. Para que as autoridades cumpram o seu papel com ética e competência. A ditadura da beleza está alienando a cabeça das pessoas, algumas têm posto a estética à frente de tudo.

A melhor maneira de impedir malefícios nunca foi e nunca será a proibição de nada, apenas a educação e o acesso a informação para que todos os indivíduos tenham ciência das consequências de seus atos e a capacidade de pensar se isso vale a pena em suas vidas ou não.

Este ato público é a prova do individualismo humano e da era da escravidão da beleza em que vivemos. Me decepciono mais ainda pela manifestação ter partido do povo gaúcho.